quarta-feira, 8 de julho de 2009

A PROVÍNCIA FRANCISCANA DE SANTO ANTÔNIO DO BRASIL

CONSPECTO HISTÓRICO

1. OS PRIMEIROS MISSIONÁRIOS DO BRASIL - Foram os franciscanos os primeiros evangelizadores do Brasil. Já em 1500, o franciscano Frei Henrique de Coimbra celebrou a primeira missa na Terra de Santa Cruz. O Brasil só conheceu missionários franciscanos até a chegada do Primeiro Governador Geral com os primeiros jesuítas em 1549.
2. FUNDAÇÃO DA CUSTÓDIA DE SANTO ANTÔNIO – Mas só em 1584 foi criada a Custódia de Santo Antônio do Brasil, dependente da Província Franciscana do mesmo nome de Portugal. Os fundadores chegaram a Olinda a 12 de abril de 1585, chefiados por Frei Melquior de Santa Catarina. Tomaram posse, a 4 de outubro do mesmo ano, do Convento de Nossa Senhora das Neves, construído para eles pela terciária franciscana Maria da Rosa.
3. AS PRIMEIRASA ATIVIDAdES DOS FUNDADORES – Fundaram muitos conventos que ainda hoje são preciosas relíquias do passado e inúmeras Missões entre os índios. Fundaram obras sociais, escolas e davam atenção especial aos hospitais e leprosários. Pregavam também Missões populares.
4. CRIAÇÃO DA PROVÍNCIA – A 24 de agosto de 1657 o Papa Alexandre VII elevou a Custódia de Santo Antônio à categoria de Província autônoma.
5. PROVÍNCIA DA IMACULADA CONCEIÇÃO - Em 1675, com a ajuda da Província de Santo Antônio, foi criada a Província da Imaculada Conceição, no Sul do Brasil.
6. DECADÊNCIA DAS ORDENS RELIGIOSAS NO BRASIL – Desde o século XVIII as Ordens Religiosas no Brasil sofriam grande repressão por parte do poder régio. Mas o golpe de morte foi o Decreto de D. Pedro II em 1845 proibindo a admissão de noviços. Com isto, os conventos foram fechando por falta de frades. Ao chegar a República, havia apenas 9 franciscanos no Brasil, 8 no Nordeste e 1 no Sul.
7. A RESTAURAÇÃO – a República separou a Igreja do Estado. Foi uma libertação. O último Ministro Provincial da Província de Santo Antônio, Frei Antônio de Lellis, fez inúmeros apelos ao Ministro Geral da Ordem Francisacana para que mandasse frades da Europa para restaurarem as Províncias Franciscanas do Brasil. A Província Franciscana da Saxônia (Alemanha) aceitou esta missão. A 27 de dezembro de 1892 chegavam à Bahia os primeiros restauradores. A 2 de março de 1893 foi decretado o início da reforma e restauração da Província Franciscana de Santo Antônio. Foram muitas expedições de frades jovens e velhos que vieram povoar os conventos abandonados. Das cinzas ia surgindo a vida com vigor.
8. A PROVÍNCIA RESTAURADA - Finalmente, a 14 de setembro de 1901, o Governo Geral da Ordem Franciscana publicava um decreto considerando restaurada a Província Franciscana de Santo Antônio do Brasil.
Foram surgindo novos conventos. A prioridade era promover as vocações nacionais. Para isto foram fundados o Colégio Seráfico de Ipuarana (Lagoa Seca / PB) em 1940, além de Escolas Apostólicas ou Preparatórias .
Também na Alemanha foi fundado o Colégio de Bardel (1921) e a Residência de Mettingen (1960), para mandarem vocações européias para o Brasil.
O Concílio Vaticano II promoveu ma grande reforma na Igreja. A Província Franciscana de Santo Antônio achou por bem fechar o Seminário e as Escolas Apostólolicas, renovando a sua pastoral vocacional.
Temos hoje, em cada Estado do Nordeste as equipes vocacionais, empenhadas em envolver na promoção vocacional todas as Paróquias confiadas aos Franciscanos.
Uma grande esperança de que a comemoração dos 800 Anos do Carisma Franciscano impulsione mais ainda a promoção vocacional, não somente em termos de aumento numérico, mas sobretudo em termos de qualidade.
B) O BRASIL NASCEU FRANCISCANO
1- A INVASÃO PORTUGUESA - Corria o ano de 1500. A 9 de março, Lisboa em festa, assistía à misssa solene celebrada no mosteiro de Belém pedindo as bênçãos do Céu para a armada, constituída de 13 caravelas, - que, naquele dia, partia do Tejo para as Índias, como se dizia, a mando de Dom Manuel, o Venturoso, comandada pelo Almirante Pedro Álvares Cabral.
A 22 de abril armada portuguesa avistava a Serra dos Aimorés a que Cabral chamou de Monte Pascal. A 22 de abril ancoraram na enseada a que deram o nome de Porto Seguro, na atual Baía Cabrália ou Santa Cruz. Tinham ares de quem já sabia o que queria e veio para ficar. A 26 de abril, primeiro Domingo da Páscoa, Frei Henrique celebrava, em ação de graças, a primeira missa no ilhéu da Coroa Vermelha, onde Cabral fincara um pendão, marco de posse do do Reino de Portugal. E a 1 de maio, a segunda missa, esta em terra firme, às margens do Itacumirim, ao pé de uma grande cruz, sinal da religião cristã professada pelos conquistadores.
A 1º de maio, Frei Henrique de Coimbra (futuro Bispo de Ceuta) celebrou a primeira missa no continente, acompanhado de sete missionários franciscanos e de alguns padres seculares, na presença de mais de 1500 pessoas, entre tripulantes e criminosos degredados e de inúmeros selvagens da tribo dos tupiniquins, ataídos pelos presentes que lhes ofertaram e pela curiosidade de coisas nunca vistas. É a esta missa que alude o célebre quadro de Victor Meireles, conservado na Escola de Belas Artes do Rio, erroneamente chamado de “Primeira Missa mno Brasil”.
A nova terra foi batizada com o nome de “!Ilha da Vera Cruz”, depois passou a ser “Terra da Santa Cruz” e, a partir de 1510, ficou como “Brasil” até os dias de hoje.
O escrivão da armada, Pero Vás de Caminha, enviou carta ao Rei relatando pormenorizadamente todo todos os feitos do empreendimento. Sua carta ficou na história como um batistério do Brasil.
Frei Henrique teria de bom grado deixado alguns de seus irmãos frades na nova terrsa, para começarem de imediato o trabalho de evangelização. Mas Cabral não o permitiu. A ordem era de prosseguir viagem patra as Índias. A 2 de maio a armada seguia para o Cabo da Boa Esperança. Aqui ficaram dois degredados para aprenderem a língua e os costumes dos nativos e servirem de intérpretes ao missionários aos primeiros missionários e colonizadores.
2 – OS PRIMEIROS FRANCISCANOS NO BRASIL
Escreve Anchieta: “ Os primeiros religiosos que vieram ao Brasil, foram da Ordem de São Francisco, os quais aportaram a Porto Seguro, não muito depois da povoação daquela capitania e fizeram sua habitação com zelo da conversão do gentio... [...] Nunca mais vieran cá religiosos, até que veio a Companhia.” [1]Não sabia Anchieta que os filhos de São Francisco foram os únicos missionários do Brasil por quase meio século, até à chegada dos Padres da Companhia de Jesus com Martim Afonso de Sousa, o Primeiro Governador Geral em 1549. Quase meio século depois, o Pe. Manuel da Nóbrega relata ao Pe. Simão Rodrigues (1550) que ouvi de alguns tupiniquin evangelizados e batizados o relato de que tinham sido evangelizados e batizados por alguns franciscanos mandados por Dom Manuel, os quais frades foram mortos por causa dos maus exemplos dos próprioa cristãos da comunidade. Trata-se, sem dúvida, dos proto-mártires do Brasil: dois franciscanos portugueses que, com ajuda dos índios, logo construíram uma casa e uma capela dedicada a S. Francisco de Assis, mas viram logo seus esforços baldados pelos maus exemplos dos “civilizados”, os quais atraíram sobre os missionários e a população da aldeia a ira dos índios. Os missionários foram trucidados quando rezavam diante de um crucifixo.Isto é atestado pelas fontes franciscanas (documentos colecionados por Frei Apolinário da Conceição e Frei Fernando da Soledade). Isto se deu a 19 de junho de 1505. [2]
Dez anos mais tarde (1515) dois outros franciscanos italianos chegaram a Porto Seguro onde restauraram a capela de São Francisco. Pe. Nóbrega registra o admirável trabalho de evangelização destes frades anônimos, elogiando-lhes as virtude e ardor apostólico. Narra que um deles, desejoso de sofrer pela causa de Cristo e levar a outros índios o Evangelho, morreu afogado ao tentar atravessar um rio, que, por isso, ficou sendo chamado Rio do Frade. Relatam os autores antigos que, passada a enchente do rio, o corpo do religioso foi encontrado de joelhos, com as mãos elevadas ao céu. Sepultaram-no na capela de São Francisco. O outro companheiro voltou à Itália. O historiador Frei Manuel da Ilha escreve que os dois trabalharam por muito tempo em Porto Seguro. Nem ele, nem Nóbrega guardaram o ano afogamento.
Após este pioneirismo franciscano, “também na Vila Velha de Diogo Álvares Correia, o Caramuru, Frei Diogo de Borba, na expedição de Martim Afonso de Sousa, exerceu uma atividade missionária ocasional, por volta do ano de 1534. E assim igualmente em Santa Catarina, na região de Laguna, embora em terras que pertenciam à espanha, pelo Tratado de Tordesilhas,m os Franciscanos epanhóis executara um trabalho missionário mais vasto , entre os índios carijó, a -partir de 1538.” [3] Frei Diogo de Borba chefiava quatro franciscanos na expedição às Índias Orientais que Martim Afonso de Sousa comandava, por ordens de Dom João III, e que, desviada pelos ventos, aportou à Bahia (à semelhança do que, segundo a tradição, teria acontecido com a esquadra de Cabral!), trazendo aquele navegador pela segunda vez ao Brasil. Foram surpreendentes os frutos espirituais colhidos aí por estes franciscanos entre os colonos e os tupinambá, conhecidos por sua ferocidade, graças a mediação de Diogo Álvares de Correia (Caramuru) que havia construído em ação de graças pela sua salvação, uma capela em honra de Nossa Senhora das Graças. [4]
Já em Santa Catarina, se tratava de franciscanos espanhóis que se dirigiam, em 1538, à Missão do Rio da Prata, mandados pelo Ministro Geral da Ordem Vicente Lunello de Balbastro (1535 – 1541). Eram eles Frei Bernardo de Armesta, da Província Bética, com quatro companheiros. Chegados que foram à foz do rio da Prata, sofreram terrível tempestade que os arrastou até o Porto de Dom Rodrigo, a atual São Francisco, pertencente então à Capitania de São Vicente, hoje ao Estado de Santa Catarina. Esta missão mereceu, em 1549 (primeiro ano de sua estadia no Brasil), grandes elogias do Pe. Nóbrega, o qual aponta como um dos frutos do trabalho daqueles franciscanos entre os guianaz e carijó a existência “de casas de recolhimento para mulheres como de freiras e outras de homens como de frades.” [5]
Vale lembrar que os missionários espanhóis receberam grande apoio de São Francisco Solano que, transferido para o Paraguai, esteve em territórios de missões franciscanas então pertencentes à Espanha e hoje ao Brasil.
Concluamos esta parte com Fr. Hugo Fragoso:
“A presença missionária franciscana em Porto Seguro, como em outras partes do Brasil. Até o ano de 1584, foi uma presença esporádica, não organizada num projeto missionário. Até o ano de 1549, quando chegaram os jesuítas à Bahia, foram os franciscanos, os únicos missionários em terras brasileiras.” [6]
A partir de 1549 “é que, juntamente com o projeto colonizador que criou o Governo geral, se elaborou também um projeto missionário, o qual o Rei de Portugal confiou aos Jesuítas. E lhes reservou a exclusividade missionária no Brasil, a qual irá vigorar até o Domínio espanhol, em 1580. Foi então que, com a ampliação das fronteiras, da colonização, ampliou-se também a 'front' missionária. E foram mobilizados, para a execução desse novo plano, os Beneditinos, os Carmelitas e os Franciscanos.” [7]
[1] Cf. ROMAG, Frei Dagoberto -, ofm, História dos Franciscanos no Brasil, Tip. João Haupt & CIA, Curitiba, 1940, 7.
[2] Cf. ROMAG, Frei Dagoberto -, ofm, História dos Franciscanos no Brasil, Tip. João Haupt & CIA, Curitiba, 1940, p. 8.
[3] FRAGOSO, Frei Hugo -, OFM, op. Cit. p. 19
[4] Cf. ROMAG, Frei Dagoberto -, ofm, op. Cit. p. 11..
[5] ROMAG, Frei Dagoberto -, ofm, op. Cit. p. 11.
[6] FRAGOSO, Frei Hugo -, OFM, op. Cit. p. 19..
[7] FRAGOSO, Frei Hugo -, OFM, op. Cit. p. 19-20.

2 comentários:

  1. Frei Milton, gostaria muito do seu e-mail. Sou estudante do curso de história e gostaria de conversar sobre o Frei Casimiro.

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  2. Olá Frei José Milton, saudações!

    Estou feliz por encontrar você aqui. Me chamo Leandro de Jesus Araújo Júnior (Júnior Araújo), sou cearense, natural da cidade de Tianguá, localizada na Serra da Ibiapaba. Sou acadêmico do curso de história da Universidade Estadual Vale do Acaraú - UEVA (Sobral-CE). Minha pesquisa está voltada para a presença franciscana na cidade de Tianguá e na Serra da Ibiapaba, partindo da crianção da Escola Apostólica de São José e do Convento Franciscano em primórdios da década de 1940. Acabei de enviar um email para a Província Franciscana de Santo Antonio do Brasil pedindo ajuda, perguntando se existe alguma documentação que discorra sobre a Escola Apostólica de São José e sobre os Frades que aqui passaram, boa parte deles alemães. Gostaria de saber mais em especifico sobre o Frei Anastacio Schulte (Alemão), que morreu carbonizado em um acidente de carro na descida da Serra da Ibiapaba, sua morte foi motivo de grande comoção em toda a região!

    Frei José Milton, na esperança de que o senhor possa me auxiliar com minha pesquisa, lhe mando meu cordial abraço e agradeço desde já sua preciosa atenção!

    Att,
    Leandro de Jesus Araújo Júnior.
    Tianguá-Ce

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