sábado, 3 de abril de 2010

FREI VENÂNCIO E OS ESCRAVOS DO CONVENTO DE MIPOJUCA

CAPÍTULO XV DE SUA HISTÓRIA DO CONVENTO DE SANTO ANTÔNIO DE IPOJUCA:

“Poucas notas históricas relatam a existência de escravos no 2onvento de Ipojuca. 0 guardião frei João do Pilar (1718-1419) adquiriu quatro negros, levantando uma senzala para os escra­vos casados (1), na atual rua do convento (2). Em 1796, contava convento onze escravos (3). _X. medida que os conventos do Brasil se despovoavam, diminuia também o número dos seus escravos. até que o capitulo provincial de 7 de dezembro de 1872, num rasgo de generosidade, alforriou todos quantos ainda existiam nas casas da província de Santo Antônio (4).
Aliás, as leis da província franciscana sempre garantiram tratamento humano aos escravos dos conventos; o capitulo provincial de 7 de janeiro de 1741 renovava a determinação de ser celebrada missa pelo descanso eterno de cada escravo fa­lecido (5).
Não admira que em tais condições os escravos sentissem menos a falta da preciosa liberdade, reputando-se servos dos santos e prestando de bom grado seus trabalhos nos diversos ofícios que exerciam com rara habilidade.
Hoje em dia, estranhamos que até os conventos possuíssem escravos; não só os franciscanos, senão também as demais ordens religiosas. Quando estas se estabeleceram no Brasil, já encon­traram a escravidão introduzida, do mesmo modo que em Portugal havia cativos negros desde o descobrimento e a explo­ração da costa ocidental da África central (1416) (6).
O motivo principal por que os religiosos ocupavam o braço do negro, residia na grande falta de irmãos leigos. Enquanto as vocações sacerdotais brasileiras em todas as ordens eram suficientes, notava-se entretanto a escassez de irmãos, porque o trabalho manual era desprezado como indigno de homem livre, conceito errôneo que fora refutado pelo próprio Cristo-Operário.”


NOTAS AO CAPÍTULO XV (página 90):

1. LIVRO DOS GUARDIÃES DE IPOJUCA (LGI, 24.)
2. Contam os antigos que no local da atual Casa dos Romeiros ficava a senzala, da qual se vêem ainda restos de alicerces.
3. Memórias, I, 39-40. Arquivo racional.
4. ARQUIVO PROVINCIAL IPOJUCQA (AP I, 12, f. 67.)
5. AP I.
6. Haebler. Die Anfange der Sklaverei in Amerika, 176 e ss.
FONTE:
WILLEKE, Convento de Sto. Antônio de Ipojuca, Separata da Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Rio de Janeiro, 1956, páginas 47 a 48 e página 90.

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