terça-feira, 22 de junho de 2010

GUERRA HOLANDESA: O MARTÍRIO SE ESTENDIA AOS MILITARES E A TODA A POPULAÇÃO

PERSEGUIÇÃO GENERALIZADA AOS CATÓLICOS
Vejamos o relato de Fr. Manoel Calado: “No tempo que veio a armada do Conde da Torre a estas costas, tendo os do Supremo dado passaportes aos Frades de Santo Antônio [franciscanos] e São Bento e do Carmo que serviram de confortar e animar a estes cativos, e por de todo os desconsolar sem respeitarem os ditos passaportes, os embarcaram dizendo que iam para as Índias [de Castela], sendo cousa certa mandá-los martirizar, lançados vivos ao mar com pedra nos pés, como fizeram aos mais dos nossos soldados prendidos do Arraial Velho, ficando alguns poucos Clérigos tão atemorizados, que por nenhuma maneira ousavam celebrar missa, nem meter-se em nenhum outro ato de Cristandade.” [1]
Note que também os soldados cristãos passaram pelo martírio.
Mas toda a população se via desprotegida da sanha dos holandeses.
Frei Calado prossegue:
Para a assolação de toda a Província [Capitania], inventaram e inovaram vária diversidade de ofícios, a saber, Escoltetos e Financeiros, que nenhum outro cargo executavam mais que argüir aos pobres moradores de tudo aquilo que lhe ditava a imaginação para condenarem para si, usando de seus poderes com os maiores insultos do mundo, até tomarem as mulheres casadas com força e violência e usarem delas por rmancebas, tendo-as e mantendo-as em suas casas, como o fez o Escolteto Alado Holl das freguesias de Ipojuca e Santo Antônio do Cabo, a uma mulher de um homem muito honrado, que tudo era patente aos do Conselho, e em nada queriam prover pelas interessadas conveniências que tinham com a maldade de seus procedimentos.” [2]
Frei Calado continua a enumerar detalhadamente os crimes que eram apadrinhados pelos Conselheiros do Recife e seus Ministros em toda a Capitania, crimes em que rivalizavam como autores “o Judaísmo e o Holandês” (Flamengos e Judeus): a exploração das dívidas dos senhores de engenho, o roubo no comércio do açúcar, privando-os daquilo a que tinham direito pelos contratos, a ponto de perderem todos os seus bens para se livrarem, em vão, das “dívidas” impagáveis... Chegou ao ponto de a Companhia das Índias Ocidentais combinar com os devedores de deixarem por conta dela a solução dos seus débitos junto aos judeus e outros mercadores; a Companhia agiu tão fraudulentamente que ficaram estes a dever mais a ela que àqueles.
Afirma Frei Calado: os Ministros Holandeses inventaram que os moradores tramavam um levante e, para impedi-lo, escolheram “o mais tirano homem [...], por nome João Blar, que com 300 soldados campeasse no sertão [Interior], aonde fez tais roubos, estupros e violências quais se não historiarão dos mais cruéis Imperadores romanos.” [3] E relata o que se passou em São Lourenço e outras freguesias: assassinato de todos os homens de uma mesma casa, defloramento de donzelas que morriam vendo os pais e irmãos mártires, debatendo-se entre a vida e a morte no próprio sangue inocente.
Acresce as profanações dos templos, os sacrilégios contra as imagens dos santos, especialmente da Santíssima Virgem.
Tudo isto provocou uma profunda dor aos luso-brasileiros. Imploraram à Mãe de Deus que ela os ajudasse a encontrar, “com armas nas mãos”, remédio e proteção contra tão grandes males.
“E assim elegemos por Governador de nossa liberdade a João Fernandes Vieira. [...] E porque [...] nos pusemos em arma com nosso Governado, [...] e nos fomos retirando de mato em mato [em guerrilha], avisando de tudo ao Governador e Capitão Geral do Brasil Antônio Teles da Silva, de quem, por sua cristandade, por seu valor e por seu sangue, esperávamos breve socorro”. [4]
[1] CALADO, Fr. Manoel, O Valeroso Lucideno e Triunfo da Liberdade, I º Volume, Recife, 1942, p. 296.
[2] CALADO, Fr. Manoel, O Valeroso Lucideno e Triunfo da Liberdade, I º Volume, Recife, 1942, pgs. 296 -297..
[3] CALADO, Fr. Manoel, O Valeroso Lucideno e Triunfo da Liberdade, I º Volume, Recife, 1942, p. 299.
[4] CALADO, Fr. Manoel, O Valeroso Lucideno e Triunfo da Liberdade, I º Volume, Recife, 1942, p. 300.

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