sexta-feira, 25 de junho de 2010

A PASSIFLORA DE IPOJUCA


Foto de Edvaldo Medeiros (Ipojuca)




Já ouviu falar da Passiflora de Ipojuca? Se é lenda ou verdade, só Deus o sabe.



Corria o ano de 1890. A 24 de junho, falecia na Bahia o último Guardião e inquilino do Convento ipojucano Frei João de Santa Teresa. Era o dia do Santo do seu nome. O trissecular Convento de Ipojuca estava fadado ao completo abandono e desmoronamento.



A Comunidade de Ipojuca se extinguira rapidamente, o mesmo tendo acontecido com outros conventos da Província Franciscana de Santo Antônio e também com os de outras Ordens religiosas. A política imperial contra a Igreja chegara ao cúmulo de proibir a entrada de noviços. Com isso, dentro de poucos anos estariam fechados todos os conventos e mosteiros do Brasil.



Corria entre os frades de Ipojuca que Deus, na sua bondade, daria um sinal àquele que devia morrer, para que bem se preparasse para a chegada da Irmã Morte. O frade que, pela manhã, encontrasse uma flor de Passiflora na seu lugar, na estala do coro onde se rezava Ofício Divino do Breviário, seria o próximo a morrer.



E assim ia morrendo um após outro, aquele que recebera a passiflora, sem que alguém o substituísse.



Aconteceu que, um belo dia, um dos frades, encontrou a Flor-da-Paixão (Passiflora ou flor do maracujá, como também se dizia) no lugar onde costumava sentar-se para a oração comunitária. Sem que ninguém o percebesse, colocou-a no lugar do seu vizinho, bem mais velho do que ele. Encontrando-a, aquele religioso levou-a ao lábios e ao coração com muita humildade. E aguardou serenamente a sua hora, já que andava sempre preparado. Daí a alguns dias entregou a sua alma em paz nas mãos d0 Criasdor. E assim aconteceu com os demais que se deparavam com a linda flor da Passiflora que vicejava no sítio do Convento. Por fim, só restava um frade: precisamente aquele que passara adiante a flor-da-paixão.



O nome desse frade? Só poderia ter sido aquele que, segundo o historiador Frei Venâncio Willeke, morrera na Bahia aos 24 de junho de 1890, Frei João de Santa Teresa, "o último, inquilino e morador do Convento de Santo Antônio de Ipojuca".



Adoecendo gravemente, não mais voltou a Ipojuca. Mas, por desabafo de consciência, ainda chegou a lançar no papel com letra já trêmula, a história que acabei de narrar. É uma suposição minha.



E como tive conhecimento dela, já que Frei Venâncio cala completamente esta história nas muitas páginas que dedicou ao Convento e aos frades de Ipojuca? Li-a num exemplar do Almanaque do Mensageiro da Fé que tive em minhas mãos há muitos anos passados e que não existe mais. Certamente era único exemplar da preciosa publicação franciscana, da falida Editora Mensageiro da Fé que tinha sua sede na Bahia.



Parece-me que o precioso manuscrito foi encontrado em sua mesa pelos que lhe prepararam o corpo para a sepultura.



E foi assim que se salvou a memória da Passiflora de Ipojuca.






Mas Deus, na sua Providência, não deixou também fechar para sempre o Convento de Santo Antônio de Ipojuca com o Santuário do Glorioso Senhor Santo Cristo: NO FINAL DO SÉCULO XIX CHEGAVAM DA ALEMANHA OS FRADES RESTAURADORES. E UMA VIDA NOVA TOMOU CONTA DE IPOJUCA.






Creio que hoje ninguém conhece essa história fora este frade que accaba de relatá-la.



E quem a escreveu mui belamente foi a colaboradora de Fr. Venâncio em seus trabalhos de história, Maria Odete, que usava o pseudônimo "Maria de Ipojuca".



Quando do meu paroquiato em Nossa Senhora do Bom Parto, em Campo Grande (Recife), visitei-a na Encruzilhada, onde morava. Tinha esperança que ela me contasse de "viva voz" a história da Passiflora de Ipojuca. Já não se lembrava de tê-la algum dia escrito e chegou a me afirmar nuna ter ouvido falar na tal Passiflora. Seria o "mal de Alzheimer" que a afetava e essa doença degenerativa a tornava incapaz de prestar-me o socorro que lhe fora pedir?



Conformei-me, mas disse-me com os meus botões: - "Não vou deixar morrer tão preciosa tradição." E aqui estou, prezado leitor, para lhe dizer que, se vier a encontrar uma Passiflora em meu lugar no coro, espero que Deus me ajude a não passá-la adiante. Mas a história não quero que se perca comigo. Passe-a adiante, sem receio.



E uma coisa tenho feito desde que aqui cheguei: deixar que não falte em nosso pomar, chamado também Santuário Ecológico Franciscano de Ipojuca, a passiflora edulis ou a mais rica em virtudes medicinais: a passiflora quadrangularis, o nosso marcujá-açu.









Frei José Milton de Azevedo Coelho, ofm.









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Um comentário:

  1. Frei Milton Coelho, Paz e Bem.

    É com bastante alegria que releio esta história
    a Passiflora de Ipojuca.
    A primeira foi quando fiz o noviciado no ano de 1979.
    O nosso guardião era o Frei Humberto e o mestre
    dos noviços era o Frei Ademir.
    É uma história bastante interessante, como
    tantas que lí quando estava aí em Ipojuca, pois
    o Sr. sabe o acervo das atas e crônicas é grande.
    O convento tem um rico patrimônio da história tanto do Convento como também da proria ciddade.
    Ainda hoje tenho contato com alguns frades da OFM.
    Sou casado vivo bem com a minha esposa.
    Sou Pastor da Igreja Anglicana aonde o nosso Bispo é Bispo Robinson Cavalcante.
    A igreja Anglicana também tem ordens Religiosas
    aonde eu faço parte da OFA - Ordem Franciscana
    Anglicana e exerço o cago de Capelão Geral da ordem.
    Sem mais e que Jesus nos abençoe

    Rev. Marcone Alves de Oliveira ofa.

    e-mail: revmarcone@bol.com.br

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